Image Credit Regional Association of Dutch Water Authorities
Image from Panoramio by Bob Fleumer
Os
holandeses têm um caráter pragmático, objetivo, prático e disciplinado. Mas a
tenacidade desse povo, seu espírito de união e comprometimento com o todo, o
sentimento do coletivo fica muito mais claro e evidente quando nos deparamos
com algo concreto, tangível aos olhos e ao entendimento. Não só ao alcance da
visão, mas com uma abrangência muito maior e de vital importância para a
segurança de seu povo.
Refiro-me
ao espetacular projeto Delta Works (Deltawerken) uma enorme série de barragens,
diques, represas, eclusas e comportas que protegem a Holanda da invasão das águas. Seja
do mar, dos afluentes dos rios, de inundações por chuvas ou qualquer evento que
ameace as terras abaixo do nível do mar.
Uma
maravilhosa obra de engenharia já chamada pela American Society of Civil Engineers como uma das Sete maravilhas do
Mundo Moderno.
A
maioria das obras situa-se na região sudoeste da Holanda e protegem a área do
delta dos rios Reno, Mosa e Shelde (Rijn-Maas-Scheldedelta). Isso significa
também o enorme porto de Rotterdam, entrada vital para o pleno funcionamento da
economia do país.
O
projeto delta demorou cerca de 30 anos para ser finalizado.
A
luta contra as águas é presença constante nos Países Baixos. Fez parte de sua
história marcando profundamente a alma desse povo e por isso suas
características tão assertivas. Faz
parte de seu presente através do controle absoluto e preciso do nível das
águas. E com igual importância fará parte de seu futuro com tantos desafios a
serem superados num planeta em que o aquecimento global é um fato constante e determinante.
Olhando
para o passado têm-se uma idéia dos constantes esforços para a proteção das
terras baixas. Por volta de 1927/33 quando foi construído o grande dique Afsluitdijk, no norte, já havia planos para
a proteção da costa no sul das freqüentes inundações. Devido à II Guerra
Mundial e outras questões o plano foi adiado.
O
fator decisivo para a implementação do projeto foi em 1953 quando houve um
grande acidente climático, grandes inundações onde as marés altas e um furacão
destruíram um dique de proteção no sudoeste do país (onde se encontra o delta
dos rios Reno, Escalda e Mosa) causando a morte de milhares de pessoas e
destruindo mais de 160.000
hectares de terra. O fato foi determinante para que as
autoridades revissem o sistema de proteção, empreendendo de vez seu maior
projeto hidráulico de contenção das águas, o DELTAWORK.
Ao
longo do caminho o projeto inicial foi sofrendo alterações e se adaptando as
necessidades de preservação do meio ambiente. O estuário de Oosterschelde (Eastern Scheldt) era inicialmente para ser
bloqueado através de uma barreira e suas águas salgadas transformadas em água doce. Devido à pressão da
opinião pública (pescadores e ambientalistas) o governo alterou o projeto a
assim ao invés do fechamento total optou-se por uma grande represa que permitiria o fluxo das águas e seu controle, preservando assim o ecossistema
de águas salgadas. A represa permanece aberta em condições normais e somente
quando as águas atingem três metros acima do nível esperado elas então se
fecham impedindo inundações. Como complemento de proteção velhos diques foram
reforçados, ampliados, outros foram criados e novas rotas de navegação ao porto
de Rotterdam e Antwerpia na Bélgica.
Entre
as obras do Delta Work que mais se destacam está a Maeslantkering, citado
acima. Situada no Niewe Waterweg a principal rota de passagem dos navios rumo
ao porto de Rotterdam foi Iniciada em 1991. A grande barreira móvel foi a solução
encontrada para proteger o porto de Rotterdam e toda a área em torno, cidades e
áreas de agricultura e também permitir a passagem dos navios rumo ao porto.
Ao
contrário de uma barreira fixa a Maeslantkering é composta por dois grandes
portões flutuantes ocos de estrutura de metal. Os braços da estrutura são
móveis permitindo a abertura e o fechamento do canal. Conectados à base por uma
esfera que funciona como uma articulação móvel no seu eixo de conexão com a
base (a exemplo de uma articulação humana). Assim o movimento dos portões não é
rígido, permitindo sua mobilidade livremente sob influências de ventos e da
força das águas. Em condições normais,
os portões ficam nas docas laterais em lugar seco e protegido. O funcionamento
se dá quando as docas são preenchidas pela água permitindo aos portões
flutuarem e lentamente se fecharem. Quando os dois braços se encontram os
reservatórios que compõem sua estrutura se enchem de água e lentamente afundam.
Assim se forma uma sólida contenção das águas em caso de ameaça de inundação.
Todo
o sistema para um eventual fechamento dos portões funciona através de um
programa especial de computadores. Esse sistema por sua vez está conectado com
os dados atmosféricos, de oscilação das marés e outros parâmetros. Assim que o
nível das águas atinge a marca de três metros, e todos os parâmetros são
atingidos o sistema aciona o fechamento da barreira.
*Em caso de fechamento, o processo todo leva cerca de 90 minutos;
*A expectativa de acordo com estatísticas é que a Maeslant se feche uma vez a cada dez anos;
*Embora seja ativada, uma vez por ano para fins de teste, a barreira só foi fechado uma vez, em resposta a um aumento nas marés em 2007.
*A expectativa de acordo com estatísticas é que a Maeslant se feche uma vez a cada dez anos;
*Embora seja ativada, uma vez por ano para fins de teste, a barreira só foi fechado uma vez, em resposta a um aumento nas marés em 2007.
*Quando fechada a barreira o nível de água do lado do lado do Mar do Norte fica mais alto exercendo uma enorme pressão sobre a barreira com força suficiente para derrubar um grande navio;
*A articulação em forma de bola é a maior do mundo, com um diâmetro de 10 metros e pesando 680 toneladas;
*Cada um dos portões tem 22 metros de altura e 240 metros de comprimento;
*Levou seis anos para construir a barreira;
*Para informações mais detalhadas e informações sobre a gestão da água na Holanda, as pessoas podem visitar o centro de informações, que está aberto todos os dias ao lado da Maeslankering, a entrada é gratuita;
*O Europoortkering-project custou 660 milhões de euros;
*MAESLANTKEIRNG (site do museu que fica ao lado da barreira)
A
história conta...
Por
ser uma baía de grande extensão o Zuiderzee estava exposto as freqüentes
tempestades do mar do Norte que forçavam a água para dentro da baía inundando
vilas. Idéias a fim de proteger a região já existiam no século 17, mas ainda
impraticáveis devido a falta de tecnologia para isso. No entanto somente no
século 19, foi possível desenvolver a técnica que implementaria o projeto.
O
responsável por isso foi o engenheiro civil holandês Cornelis Lely que em 1891 propôs
as bases para a construção de uma barragem (um grande dique) para o fechamento
do Zuiderzee, transformando-o em um lago. As águas não tão profundas do
Zuiderzee (em torno de 4
metros de profundidade) facilitariam a execução do
projeto apesar de toda a precariedade na época. Além disso, o projeto também incluía
a construção de quatro polderes no lago (que após a conclusão do projeto se chamou
Ijselmeer). Os polderes serviriam como terras cultiváveis para a agricultura. Mais
tarde se dividiram em apenas dois.
Mas
a idéia de Lely ainda não teria espaço para se concretizar. Em 1913 quando se
tornou ministro dos Transportes e Obras Públicas o engenheiro conseguiu alavancar
seus planos apesar das resistências. Pescadores ao longo do Zuiderzee estavam
preocupados se iriam perder seus meios de subsistência. Outros estavam
preocupados que um projeto como este pode criar maiores níveis de água em
outros lugares ao longo da costa. O governo preocupado com o custo enorme do
projeto.
Em
Janeiro de 1916, durante uma tempestade de inverno vários diques quebraram ao
longo do Zuiderzee e o resultado foi inundações como no passado.
Após
este desastre o plano ousado de Lely ganhou apoio popular e em14 de junho de 1918 a Lei Zuiderzee foi
aprovada e o projeto foi oficialmente iniciado e assim foi criado o AFSLUITDIJK o maior dique da Holanda com 32 km de estradas sobre ele.
Seus objetivos eram para
proteger a região contra enchentes do Mar do Norte, aumentar a oferta de
alimentos do país, criando polders que poderiam ser transformados em terras
agrícolas e usar o que restou da Zuiderzee para melhorar a gestão da água.
*Localização das principais obras do Projeto Delta Word
Obras formidáveis! Por trás de conceitos e aprendizagens, homens inteligentes e criativos conseguiram dominar e moldar a natureza de tal forma que a mesma passou a fazer parte do crescente progresso dessa nação tão próspera e aguerrida.
ResponderExcluir