quinta-feira, 14 de novembro de 2013

As utópicas ciclovias holandesas





Vai longe o tempo em que tudo começou. A bicicleta como estilo de vida nos Países Baixos vem de longa data.
Já no ano de 1890 a sociedade holandesa se organizava em torno da construção de “caminhos separados” para o trânsito dos transportes: lentos (cavalos, charretes, pedestres) e rápidos (as bicicletas). Criando assim o embrião do que se tornaria no futuro as modernas e utópicas ciclovias holandesas, exemplo para o mundo todo.
Desde cedo grupos se formaram em favor dos direitos dos ciclistas e do conseqüente incentivo ao uso da bike. O ANWB fundado em 1883, uma espécie de clube de ciclismo e que mais tarde se transformou num clube de automóveis e bicicletas - Royal Dutch Touring Club existente ainda hoje - pode ser considerado como um dos primeiros responsáveis por dar suporte e incentivo ao uso funcional da bicicleta. Formado por pessoas importantes e com poder para transformar as coisas o clube atuou junto ao governo, pressionando e efetivando a construção das primeiras “ciclovias”. Um aspecto importante a ressaltar é que na Holanda o uso da bicicleta nunca foi associado às classes mais pobres. Ao contrário, todos indistintamente sempre a usaram como mais uma opção de locomoção. Mesmo após o advento do carro, os holandeses nunca desistiram de pedalar.

Mudanças à vista
Até a II Guerra Mundial o transporte mais usado na Holanda era a bicicleta. Após a popularização do carro pelos idos dos anos 50/60 as bicicletas foram perdendo espaço nas ruas, cada vez mais espremidas pelos veículos. O grande boom na economia do país nos anos 70 facilitou as coisas para a crescente aquisição de carros e a visão de um próspero futuro antevia também um declínio no uso das bikes. As cidades passavam por grandes mudanças, dando espaço a uma nova demanda: a cultura centrada no carro. Até mesmo a remoção de algumas antigas ciclovias e a derrubada de prédios históricos aconteceu para alargar as ruas e dar mais espaço aos novos e modernos veículos.
Por conta disso no período de 1960 a 1970 pode-se dizer que o governo negligenciou a atenção aos ciclistas. Mas a lógica segue por caminhos tortuosos e o imprevisto aconteceu. Com o número crescente de carros nas ruas também se elevou o número de acidentes, ás vezes fatais - muitos envolvendo crianças no seu trajeto casa-escola-casa. Dentre estas, estava o filho de um importante jornalista, Vic Langenhoff que movido pela emocional perda do filho escreveu uma série de artigos. O primeiro dos quais usou a manchete dramática 'Stop de Kindermoord' (Pare o assassinato de crianças).


O ponto de virada
Os artigos desencadearam uma violenta reação na população que saiu às ruas para protestar. Grupos se formaram, mobilizando através de ativistas políticos (como Maartje van Putten) a energia necessária para a virada do jogo.  Nascia assim o Stop de Kindermoord um grande movimento de protesto pela sensibilização (do governo) a favor da segurança nas estradas, especialmente visando às crianças. O movimento ganhou o reconhecimento do Governo, incluindo o primeiro-ministro da época, Joop den Uyl.
A organização trabalhou incansavelmente através não só dos protestos, mas na proposição de soluções técnicas para a criação de projetos de planejamento urbanos que visavam o bem estar das pessoas em primeiro lugar. O processo de transformação também foi acompanhado pela criação de novas leis de responsabilidade, no amparo aos ciclistas.
Assim a partir dos anos 70 devido à pressão popular, o governo passa a reavaliar seus planos e um ponto de virada acontece. Uma mudança totalmente inversa nos planos de urbanização - que até então impulsionado pela prosperidade do pós guerra se voltava para a crescente presença do carro. As cidades passam a ter de volta a prioridade centrada nas pessoas e no seu bem estar ao invés de carros e suas conseqüências danosas.  É exatamente nesse ponto que a Holanda se diferencia dos demais países europeus que também faziam uso da bicicleta naquela época.
Num primeiro momento o planejamento urbano se voltou para a criação de áreas residenciais mais seguras, principalmente para as crianças, as chamadas woonerf (áreas residenciais). Foram iniciadas na cidade de Delft pelo engenheiro de transportes húngaro Joost Vahal e rapidamente se espalharam por todo o país.



                     Protestos nos anos 70, na Museumplein em Amsterdam

                        Protetos anos 70, campanha Stop Kindermoord
                        Crédito das fotos: google imgens


Woonerf, porque o que importa é o ser
Historicamente as ruas sempre foram um espaço social. Com o aparecimento do carro as pessoas foram forçadas a deixar esse espaço. Assim, nasceu na Holanda o conceito de woonerf que, basicamente foi devolver esse local publico às pessoas novamente. As ruas são concebidas como um espaço compartilhado. Um lugar de encontros, para as crianças brincarem com segurança, onde ciclistas e pedestres podem se movimentar livremente. Carros são permitidos, mas somente com restrições: velocidade lenta, não intrusiva, não bloquear a via, acesso limitado. Ainda hoje essas áreas/ruas são muito comuns nas cidades holandesas e muito características da paisagem urbana local.
  


                                       Sinal de trânsito indicando zona Woonerf


Juntamente com esse novo conceito surgiu o impulso necessário a favor da retomada do antigo costume que fazia da bicicleta o meio de transporte mais usado. Um pensamento não centrado no carro, mas sim nas necessidades das pessoas.
Os pioneiros do planejamento urbano encontraram uma solução que trouxe benefícios sociais e individuais para todos usarem as ruas democraticamente. Carros, ciclistas, e pedestres todos compartilhando o espaço de forma organizada e ordenada. Os conceitos introduzidos trouxeram acima de tudo confiança subjetiva aos ciclistas, o que significa usar as vias públicas com segurança. Amparados por essa conjuntura a cultura da bicicleta só fez florescer, cada vez mais. Hoje as políticas de transito


O filme abaixo se chama: Como os holandeses conseguiram sua infra-estrutura de ciclismo. 
O crédito é do site: http://bicycledutch.wordpress.com
Tem legendas em português, clicando no link de legendas na barra inferior do video.



*Algumas medidas adotadas pelo governo na construção de sua infra estrutura de transportes:
* Reduzir o acesso de carros aos centros das cidades e criar áreas livre de carros;
* Tornar mais caro o estacionamento nos centros das cidades;
* Construir ciclovias e reduzir o espaço destinado para carros nas ruas;
* Facilitar o ciclismo através do planejamento de redes cicloviárias, design de ruas,
sinalização, estacionamento e regulamentação;
* Reduzir a velocidade máxima na maioria das vias urbanas para 30 km/h ou menos;
* Promover o ciclismo através do incentivo do uso de bicicleta, desencorajando o uso do carro.




Isto e aquilo...

*Rotas de bike por toda a Holanda. Rotas prontas ou voce mesmo pode planejar a sua pelas ciclovias holandesas. (em holandes, mas com paciencia e google translator tudo se resolve). O link acima leva para algumas rotas aqui na regiao de Amsterdam, mas o site oferece rotas em toda Holanda, Belgica e Alemanha.


*Atualmente a Holanda tem mais de 29.000 quilômetros de ciclovias segregadas. Isto representa 12.000 km a mais do que em 1996. Sem dúvida, a Holanda investe continuamente em ciclismo.

*Coincidentemente a crise do petróleo dos países do Oriente Médio - que suspenderam o fornecimento para os EUA e Europa Ocidental nos anos 70 - também contribuiu para a substituição do carro em favor da retomada das bicicletas, um meio sustentável e não poluente.

*Em cidades como Amsterdam e Den Haag mais de 70% da mobilidade e trânsito de pessoas é feito de bike;

*Neste país altamente motorizado, seus 16 milhões de habitantes possuem 18 milhões de bicicletas;

*Amsterdã investiu 20 milhões de euros (28 milhões de dólares) por ano em projetos de ciclismo entre 2007 e 2010. Os benefícios econômicos superam em muito os custos. O ciclismo como um todo causou impacto sobre a paisagem urbana. É importante criar ruas tranquilas para que os ciclistas e os carros possam compartilhá-las com segurança. Contudo, ao longo das ruas principais requer-se uma infra-estrutura dedicada ao ciclismo, como ciclo faixas e ciclovias segregadas. Por isso são investidos milhões de euros na construção de interseções seguras para ciclistas ou na construção de túneis e pontes específicos;

* Quase todo mundo usa uma bicicleta na Holanda. Nada menos do que 84% dos holandeses possuem pelo menos uma bicicleta. Os proprietários de carros também usam suas bicicletas uma vez que estas podem ser mais rápidas, é sempre mais barato e mais saudável;

* Andar de bicicleta é para todas as idades. As crianças aprendem a andar de bicicleta por volta dos dois anos e, embora os adolescentes sejam os usuários mais aficionados de bicicletas, os adultos de todas as faixas etárias e até mesmo idosos usam geralmente a bicicleta.

Fontes: 













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