quinta-feira, 10 de maio de 2012

BILINGUISMO





BILINGUISMO – criando crianças bilíngues

Mais da metade da população mundial é bilíngüe, você sabia disso? As estimativas são em torno de 60/75% de bilíngües no mundo. Em uma boa parte do mundo ser bilíngüe é um estilo de vida. As pessoas falam uma língua em casa, outra língua na comunidade e ainda outra como vínculo global (casos de países que foram colônias, por exemplo). India e Africa são exemplos dessa situação, dificilmente você encontra alguém monolíngüe nesses países.
Muitas pessoas crescem num ambiente em que a norma é o aprendizado de mais de uma língua, portanto aprendem organicamente a falar duas ou mais línguas sem grande esforço, imersos em uma comunidade em todos praticam diferentes línguas ao mesmo tempo.
No mundo contemporâneo com um grande alcance de comunicação entre as pessoas a necessidade de falar outras línguas torna-se uma questão importante para muitos. Para aqueles que vivem em lugares onde apenas uma língua é a norma já não basta aceitarem essa condição. Oportunidades de morar em outros países são muito mais acessíveis agora do que anos atrás. Muitas empresas hoje têm programas de expatriação para seus funcionários, o que significa fazer um período de experiência profissional em outro país juntamente com toda a família. Escolher um estilo de vida com mobilidade internacional é pratica muito comum nos dias de hoje.  
As migrações humanas são outro fator decisivo. Acontecendo ao longo dos últimos anos na Europa onde países vizinhos se mesclam num vai e vem de gentes.  Nesse contexto as famílias também se formam com pais que falam línguas diferentes, se comunicam em uma terceira língua e algumas vezes os filhos freqüentam escolas internacionais acrescentando uma quarta língua à dinâmica familiar.
Todas essas questões trazem um novo desafio para os pais que tem filhos em idade escolar e ficam expostos ao aprendizado de uma segunda  língua.
O aprendizado de uma nova língua e toda complexidade que o assunto envolve deve ser olhado com atenção e cuidado por pais e educadores. Muitos tabus cercam o assunto e conhecimento é a chave do sucesso para ajudar nossas crianças bilíngües (trilíngues ou polilíngues) a conviverem e adquirirem a nova língua com precisão, acerto e afeto.

Como agente desse processo, afinal vivo essa realidade com minha filha de 7 anos procuro sempre estar informada sobre como ajudá-la na aquisição de uma segunda ou até mesmo uma terceira língua. Portanto escrevo esse post especialmente para dividir com outros pais nas mesmas circunstâncias, com as mesmas dúvidas/erros/acertos. Mas também para dividir algum conhecimento adquirido até aqui e que talvez possa ajudar a muitos que ainda estão pelo caminho.
Graças a um programa de integração e informação aos pais de crianças bilíngües na British School de Amsterdam tive a oportunidade de assistir a dois workshops sobre bilingüismo: Raising a Bilingual Child: Steps to success with school-based bilingualism e Creating a Family Language Plan. O workshop aconteceu em dois módulos, tendo a pesquisadora e especialista EOWYN CRISFIELD como palestrante. Logo abaixo você encontra mais informações sobre Eowyn Crisfield.

Um dos primeiros aspectos abordados por ela é a necessidade dos pais entenderem o processo de aquisição de uma nova língua pelos filhos. Buscar informações sobre o bilingüismo, como acontece, o que significa, como fazer escolhas, etc.
Segundo aspecto muito importante é conversar com a criança desde muito cedo sobre o bilingüismo. Explicar porque para ela é importante falar/entender mais de uma língua e o contexto dessa necessidade. Cada caso é um caso particular, em algumas situações os pais querem manter a língua deles (ou de um deles) para que a criança possa se relacionar com a família de origem, mas não tem intenção de alfabetizar a criança nessa língua. Isso tudo deve ser explicado para a criança, assim ela se sente envolvida a cooperar com o processo.
Algumas questões levantadas fornecem uma espécie de guia para ajudarmos nossas crianças no caminho da aquisição de uma nova língua. 
Por exemplo, a real necessidade da manutenção da língua materna. As crianças devem continuar o aprendizado da língua dominante (no caso a língua mais falada em casa). Quanto maior o crescimento/aquisição nessa língua maior será a aquisição na segunda/3ª língua.




* O termo língua materna refere-se à lingua falada pela mãe, que tradicionalmente era a cuidadora da criança. Os tempos mudaram e hoje o termo caiu em desuso, sendo substituido por lingua dominante ou Língua 1 (L1) no vocabulário dos linguístas especializados no assunto do bi/polinguismo.



Algumas questões levantadas no workshop são resumidas a seguir:

O que eu preciso saber sobre blinguismo, e porquê?
Quais são os melhores resultados do bilingüismo?

  - Vantagens nas Habilidades de Comunicação/cognição
*Sensibilidade Linguística: habilidade em usar palavras expressiva e eficazmente;
*Benefícios cognitivos;
*Pensamento abstrato;
*Pensamento criativo;
*Sensibilidade fonética;
*Significado sobre a forma;
*Longo prazo saúde cérebro/memória;
*Aumento da integração social;
*Aumento da eficiência em comunicação (bilíngües são eficazes comunicadores);
*Adaptabilidade em comunicar (capacidade de mudar seu discurso para ser melhor compreendido);
*Capacidade de empatia com o outro que tenta aprender sua língua;
* A aquisição de um idioma adicional em uma idade jovem (qualquer língua) tem o potencial de transformar seus filhos em melhores alunos de outras línguas mais tarde;
* Uma nova pesquisa descobriu que bilíngües ativos envelhecem melhor - em média, eles desenvolvem doenças relacionadas com a idade de memória (Alzheimer) até cinco anos depois que as monolíngües;


*Aprender uma nova língua e mantê-la não é tão fácil quanto parece para uma criança. Elas têm uma capacidade de aquisição mais rápida, mas nem por isso é algo fácil. A criança deve estar envolvida no processo, esclarecida sobre ele. Em determinados casos deve existir um grande empenho por parte dos pais em manter a língua e um grande esforço por parte da criança em cooperar com a manutenção da mesma. Como por exemplo, em famílias bilíngües em que os pais falam línguas diferentes, mas a família deseja manter as duas línguas e talvez uma terceira. Em determinado momento a língua à qual a criança está mais exposta fica mais fácil para a ela e torna-se a língua mais falada. Exige um grande empenho dos pais e certo esforço da parte das crianças em colaborar para a manutenção da língua.

*Como fazer os deveres de casa, na língua da escola ou na sua própria língua?
Na sua própria língua, ou melhor, na língua materna da criança na qual ela é mais competente. A criança precisa entender como funciona a questão pedida na tarefa, e melhor modo de ensiná-la é na língua dominante. A parte do ensino da segunda língua pertence à escola ou as fontes às quais a criança está exposta. Do mesmo modo você pode e deve ler para sua criança na sua própria língua também.

 *Qual o momento certo de alfabetizar uma criança que primeiro foi alfabetizada na segunda língua?
Recomendável que primeiro a criança sinta-se bem segura em ler na segunda língua para depois introduzir a alfabetização na outra língua. Não há evidências que crianças alfabetizadas simultaneamente em duas línguas têm algum benefício sobre outras. Portanto, calma nessa hora. Os pais podem ler na própria língua para as crianças e responder eventuais interesses em relação à própria língua. Quando uma criança já lê bem em uma língua isso naturalmente vai acontecer com a outra desde que tenham os mesmos códigos/alfabeto, então a criança só vai aprender os sons diferentes.

*Cada família precisa adotar um plano para atingir melhor os resultados almejados com sua criança. Isso significa quais os objetivos que se quer alcançar com o aprendizado de uma ou mais línguas. Exemplificando: você pode escolher que seu filho seja alfabetizado em Inglês, mas que apenas aprenda Holandês para se comunicar. São habilidades diferentes e envolvem uma abordagem também diferente.
O plano vai estabelecer de onde virão os recursos de cada língua escolhida e o tempo dedicado a cada uma também. Assim como vai ser abordada a alfabetização ou não de ambas línguas. Planos secundários para possíveis mudanças também devem ser levados em consideração para adequar a continuação do aprendizado da criança no futuro.

*Providenciar recursos para que a criança possa sempre estar em contanto com a língua. Livros, livros e livros. Material que não deve faltar como recurso e fonte da língua almejada. Filmes, websites, jogos também pode ser úteis. Manter relacionamentos com famílias que tem as mesmas prioridades em relação à língua almejada. Contato com falantes nativos, atividades extra curriculares.

*Quanto tempo de exposição é necessário para a aquisição plena de uma língua?
Isso depende de alguns fatores. Simplificando, quanto mais cedo a criança for exposta a aprendizagem de uma segunda língua, mais rápido será sua proficiência e o tempo “a  longo prazo” será menor. Pesquisas apontam que crianças antes dos 7-8 anos tendem a fazer melhores e mais firmes aquisições numa língua do que depois dessa idade. O tempo de exposição semanal ideal seria algo em torno de 20% a 30% do tempo total da criança.


Mitos e inverdades

*Freqüentemente é dito que crianças bilíngües começam a falar mais tarde do que monolíngües. Pode acontecer, embora nem todas as pesquisas sobre a relação entre línguas faladas e desenvolvimento da linguagem são conclusivas. O que realmente importa é que mesmo começando a falar mais tarde do que crianças da mesma idade monolíngües as bilíngües não apresentam nenhum prejuízo posterior no desenvolvimento da fala.
*Alguns casais que falam línguas diferentes optam por falar somente a língua em comum com a criança por receios infundados. Altamente recomendado falar desde o nascimento com a criança em ambas as línguas. O pai fala sua língua dominante e a mãe fala a sua. Mesmo que uma das línguas possa ser considerada não útil. A língua é uma porta aberta para a cultura do  país referente e como tal uma das partes que compõe a identidade de alguém. Nesses casos pode ainda ser adicionada uma terceira língua na idade escolar, uma escola de língua inglesa inglêsa por exemplo.
* O aprendizado de duas ou mais línguas pode causar confusão nas crianças? Errado. Quanto mais cedo a exposição, mais orgânica ela acontece, o que significa que a criança tem preparo para lidar com tantas línguas quanto for exposta. Quando em crianças mais velhas a exposição das línguas deve ser a mais apropriada possível. Sempre lembrando a importância de elaborar um plano, adequar expectativas dos pais à realidade da família. Ou seja, não adianta querer que seu filho aprenda três línguas simultaneamente se seu ambiente social não oferece nenhum suporte ou fonte de recursos para fornecer ajuda. O empenho dos pais em obter a colaboração da criança esclarecendo-a sobre os porquês do bilingüismo.


 “As an adult, I’ve lived in four countries, and learned two new languages. It’s not been easy, and it isn’t always pretty (to listen to!). By raising my children with more than one language, and the possibility of the transference of language ability to other languages they may choose to learn, I am hoping to open doors for them,  and open their minds to other cultures”.


 *Eowyn Crisfield é uma especialista canadense no ensino do Inglês como segunda língua/ estrangeira, formação de professores em bilingüismo. Com um Bacharelado  em TESL(English as a Second/subsequent Language) / TEFL(English as a Foreign Language) ambos direcionados para o ensino da língua inglesa para estrangeiros. Mestrado em Lingüística Aplicada pela Universidade de Concórdia. Ao longo dos últimos 19 anos, ela viveu e trabalhou na França, os EUA e na Holanda. Desde 2003, ela se especializou na área de educação dos pais e professores para o bilingüismo.
É uma forte incentivadora do bilingüismo e aconselha os pais, especialmente aqueles expatriados a entenderem os benefícios do bilingüismo. Também trabalha com escolas internacionais (inglês) e professores dando suporte para que os mesmos tenham melhor  conhecimento e treinamento na integração dos alunos não nativos na língua.

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