BILINGUISMO
– criando crianças bilíngues
Mais
da metade da população mundial é bilíngüe, você sabia disso? As estimativas são
em torno de 60/75% de bilíngües no mundo. Em uma boa parte do mundo ser
bilíngüe é um estilo de vida. As pessoas falam uma língua em casa, outra língua
na comunidade e ainda outra como vínculo global (casos de países que foram
colônias, por exemplo). India e Africa são exemplos dessa situação,
dificilmente você encontra alguém monolíngüe nesses países.
Muitas
pessoas crescem num ambiente em que a norma é o aprendizado de mais de uma
língua, portanto aprendem organicamente a falar duas ou mais línguas sem grande
esforço, imersos em uma comunidade em todos praticam diferentes línguas ao
mesmo tempo.
No
mundo contemporâneo com um grande alcance de comunicação entre as pessoas a
necessidade de falar outras línguas torna-se uma questão importante para muitos. Para aqueles que vivem em lugares onde
apenas uma língua é a norma já não basta aceitarem essa condição. Oportunidades
de morar em outros países são muito mais acessíveis agora do que anos atrás.
Muitas empresas hoje têm programas de expatriação para seus funcionários, o que
significa fazer um período de experiência profissional em outro país juntamente
com toda a família. Escolher um estilo de vida com mobilidade internacional é
pratica muito comum nos dias de hoje.
As
migrações humanas são outro fator decisivo. Acontecendo ao longo dos últimos
anos na Europa onde países vizinhos se mesclam num vai e vem de gentes. Nesse contexto as famílias também se formam
com pais que falam línguas diferentes, se comunicam em uma terceira língua e algumas
vezes os filhos freqüentam escolas internacionais acrescentando uma quarta
língua à dinâmica familiar.
Todas
essas questões trazem um novo desafio para os pais que tem filhos em idade
escolar e ficam expostos ao aprendizado de uma segunda língua.
O
aprendizado de uma nova língua e toda complexidade que o assunto envolve deve
ser olhado com atenção e cuidado por pais e educadores. Muitos tabus cercam o
assunto e conhecimento é a chave do sucesso para ajudar nossas crianças
bilíngües (trilíngues ou polilíngues) a conviverem e adquirirem a nova língua
com precisão, acerto e afeto.
Como
agente desse processo, afinal vivo essa realidade com minha filha de 7 anos
procuro sempre estar informada sobre como ajudá-la na aquisição de uma segunda
ou até mesmo uma terceira língua. Portanto escrevo esse post especialmente para
dividir com outros pais nas mesmas circunstâncias, com as mesmas
dúvidas/erros/acertos. Mas também para dividir algum conhecimento adquirido até
aqui e que talvez possa ajudar a muitos que ainda estão pelo caminho.
Graças
a um programa de integração e informação aos pais de crianças bilíngües na
British School de Amsterdam tive a oportunidade de assistir a dois workshops
sobre bilingüismo: Raising a Bilingual
Child: Steps to success with school-based bilingualism e Creating a Family Language Plan. O workshop
aconteceu em dois módulos, tendo a pesquisadora e especialista EOWYN CRISFIELD
como palestrante. Logo abaixo você encontra mais informações sobre Eowyn
Crisfield.
Um
dos primeiros aspectos abordados por ela é a necessidade dos pais entenderem o
processo de aquisição de uma nova língua pelos filhos. Buscar informações sobre
o bilingüismo, como acontece, o que significa, como fazer escolhas, etc.
Segundo
aspecto muito importante é conversar com a criança desde muito cedo sobre o
bilingüismo. Explicar porque para ela é importante falar/entender mais de uma
língua e o contexto dessa necessidade. Cada caso é um caso particular, em
algumas situações os pais querem manter a língua deles (ou de um deles) para
que a criança possa se relacionar com a família de origem, mas não tem intenção
de alfabetizar a criança nessa língua. Isso tudo deve ser explicado para a
criança, assim ela se sente envolvida a cooperar com o processo.
Algumas
questões levantadas fornecem uma espécie de guia para ajudarmos nossas crianças
no caminho da aquisição de uma nova língua.
Por exemplo, a real necessidade da manutenção da língua materna. As crianças devem continuar o aprendizado da língua dominante (no caso a língua mais falada em casa). Quanto maior o crescimento/aquisição nessa língua maior será a aquisição na segunda/3ª língua.
Por exemplo, a real necessidade da manutenção da língua materna. As crianças devem continuar o aprendizado da língua dominante (no caso a língua mais falada em casa). Quanto maior o crescimento/aquisição nessa língua maior será a aquisição na segunda/3ª língua.
Algumas questões levantadas no workshop são resumidas a seguir:
O que eu preciso saber sobre
blinguismo, e porquê?
Quais são os melhores resultados do
bilingüismo?
- Vantagens
nas Habilidades de Comunicação/cognição
*Sensibilidade
Linguística: habilidade em usar palavras expressiva e eficazmente;
*Benefícios
cognitivos;
*Pensamento
abstrato;
*Pensamento
criativo;
*Sensibilidade
fonética;
*Significado
sobre a forma;
*Longo
prazo saúde cérebro/memória;
*Aumento
da integração social;
*Aumento
da eficiência em comunicação (bilíngües são eficazes comunicadores);
*Adaptabilidade
em comunicar (capacidade de mudar seu discurso para ser melhor compreendido);
*Capacidade
de empatia com o outro que tenta aprender sua língua;
*
A aquisição de um idioma adicional em uma idade jovem (qualquer língua) tem o
potencial de transformar seus filhos em melhores alunos de outras línguas mais
tarde;
*
Uma nova pesquisa descobriu que bilíngües ativos envelhecem melhor - em média,
eles desenvolvem doenças relacionadas com a idade de memória (Alzheimer) até
cinco anos depois que as monolíngües;
*Aprender uma nova língua e mantê-la não
é tão fácil quanto parece para uma criança. Elas têm uma capacidade de aquisição mais rápida, mas nem por isso é
algo fácil. A criança deve estar envolvida no processo, esclarecida sobre ele.
Em determinados casos deve existir um grande empenho por parte dos pais em
manter a língua e um grande esforço por parte da criança em cooperar com a
manutenção da mesma. Como por exemplo, em famílias bilíngües em que os pais
falam línguas diferentes, mas a família deseja manter as duas línguas e talvez
uma terceira. Em determinado momento a língua à qual a criança está mais
exposta fica mais fácil para a ela e torna-se a língua mais falada. Exige um
grande empenho dos pais e certo esforço da parte das crianças em colaborar para
a manutenção da língua.
*Como fazer os deveres de casa, na
língua da escola ou na sua própria língua?
Na
sua própria língua, ou melhor, na língua materna da criança na qual ela é mais
competente. A criança precisa entender
como funciona a questão pedida na tarefa, e melhor modo de ensiná-la é na
língua dominante. A parte do ensino da segunda língua pertence à escola ou as
fontes às quais a criança está exposta. Do mesmo modo você pode e deve ler para
sua criança na sua própria língua também.
*Qual o
momento certo de alfabetizar uma criança que primeiro foi alfabetizada na
segunda língua?
Recomendável
que primeiro a criança sinta-se bem segura em ler na segunda língua para depois
introduzir a alfabetização na outra língua. Não há evidências que crianças
alfabetizadas simultaneamente em duas línguas têm algum benefício sobre outras.
Portanto, calma nessa hora. Os pais podem ler na própria língua para as
crianças e responder eventuais interesses em relação à própria língua. Quando
uma criança já lê bem em uma língua isso naturalmente vai acontecer com a outra
desde que tenham os mesmos códigos/alfabeto, então a criança só vai aprender os
sons diferentes.
*Cada família precisa adotar um plano
para atingir melhor os resultados almejados com sua criança. Isso significa quais os objetivos que se quer
alcançar com o aprendizado de uma ou mais línguas. Exemplificando: você pode
escolher que seu filho seja alfabetizado em Inglês, mas que apenas aprenda
Holandês para se comunicar. São habilidades diferentes e envolvem uma abordagem
também diferente.
O
plano vai estabelecer de onde virão os recursos de cada língua escolhida e o
tempo dedicado a cada uma também. Assim como vai ser abordada a alfabetização
ou não de ambas línguas. Planos secundários para possíveis mudanças também
devem ser levados em consideração para adequar a continuação do aprendizado da
criança no futuro.
*Providenciar recursos para que a
criança possa sempre estar em contanto com a língua. Livros, livros e livros. Material que não deve
faltar como recurso e fonte da língua almejada. Filmes, websites, jogos também
pode ser úteis. Manter relacionamentos com famílias que tem as mesmas
prioridades em relação à língua almejada. Contato com falantes nativos,
atividades extra curriculares.
*Quanto tempo de exposição é necessário
para a aquisição plena de uma língua?
Isso
depende de alguns fatores. Simplificando, quanto mais cedo a criança for
exposta a aprendizagem de uma segunda língua, mais rápido será sua proficiência
e o tempo “a longo prazo” será menor.
Pesquisas apontam que crianças antes dos 7-8 anos tendem a fazer melhores e
mais firmes aquisições numa língua do que depois dessa idade. O tempo de
exposição semanal ideal seria algo em torno de 20% a 30% do tempo total da
criança.
Mitos e inverdades
*Freqüentemente
é dito que crianças bilíngües começam a falar mais tarde do que monolíngües.
Pode acontecer, embora nem todas as pesquisas sobre a relação entre línguas
faladas e desenvolvimento da linguagem são conclusivas. O que realmente importa
é que mesmo começando a falar mais tarde do que crianças da mesma idade
monolíngües as bilíngües não apresentam nenhum prejuízo posterior no
desenvolvimento da fala.
*Alguns casais que falam línguas diferentes optam por falar somente a língua em comum com a criança por receios infundados. Altamente recomendado falar desde o
nascimento com a criança em ambas as línguas. O pai fala sua língua dominante e a
mãe fala a sua. Mesmo que uma das línguas possa ser considerada não útil. A
língua é uma porta aberta para a cultura do país referente e como tal uma das partes
que compõe a identidade de alguém. Nesses casos pode ainda ser adicionada uma
terceira língua na idade escolar, uma escola de
língua inglesa inglêsa por exemplo.
* O aprendizado de duas ou mais línguas
pode causar confusão nas crianças? Errado. Quanto mais cedo a exposição,
mais orgânica ela acontece, o que significa que a criança tem preparo para
lidar com tantas línguas quanto for exposta. Quando em crianças mais velhas a
exposição das línguas deve ser a mais apropriada possível. Sempre lembrando a
importância de elaborar um plano, adequar expectativas dos pais à realidade da
família. Ou seja, não adianta querer que seu filho aprenda três línguas
simultaneamente se seu ambiente social não oferece nenhum suporte ou fonte de
recursos para fornecer ajuda. O empenho dos pais em obter a colaboração da
criança esclarecendo-a sobre os porquês do bilingüismo.
“As
an adult, I’ve lived in four countries, and learned two new languages. It’s not
been easy, and it isn’t always pretty (to listen to!). By raising my children
with more than one language, and the possibility of the transference of
language ability to other languages they may choose to learn, I am hoping to
open doors for them, and open their
minds to other cultures”.
*Eowyn
Crisfield é uma especialista canadense no ensino do Inglês
como segunda língua/ estrangeira, formação de professores em bilingüismo. Com
um Bacharelado em TESL(English as a
Second/subsequent Language) / TEFL(English as a Foreign Language) ambos direcionados
para o ensino da língua inglesa para estrangeiros. Mestrado em Lingüística
Aplicada pela Universidade de Concórdia. Ao longo dos últimos 19 anos, ela
viveu e trabalhou na França, os EUA e na Holanda. Desde 2003, ela se
especializou na área de educação dos pais e professores para o bilingüismo.
É uma forte incentivadora do bilingüismo
e aconselha os pais, especialmente aqueles expatriados a entenderem os
benefícios do bilingüismo. Também trabalha com escolas internacionais (inglês) e
professores dando suporte para que os mesmos tenham melhor conhecimento e treinamento na integração dos
alunos não nativos na língua.
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