Algumas cidades provocam suspiros, assim que você chega já fica impactado, tomado por sua beleza visível, suas paisagens de encanto. Outras nem tanto, ocultam seus mistérios, escondem-se sob um véu a ser descoberto. Não se exibem descaradamente, nem fazem alarde de sua beleza. A modéstia é seu mote. Acho que isso tá relacionado diretamente com sua cultura, mas nem por isso deixam de ser belas.
A minha Istambul é assim, uma cidade sem exclamações, interjeições ou algo do gênero. Uma cidade para ser descoberta aos poucos, feita de paisagens imaginárias construídas nas memórias do tempo, nos meandros do espaço. Feita de cheiros, sons, cores e sabores. Uma cidade que ora se mostra ora se esconde.
Caminhando pelas ruas de Sultanahmet o bairro histórico de Istambul - onde está a maioria das atrações históricas - a imaginação se torna companheira constante e os pensamentos voam para lugares perdidos no tempo e no espaço. Em algum momento no passado, poderosos imperadores e sultões, príncipes e reis, concubinas e rainhas viveram, amaram, lutaram, conquistaram, riram e choraram suas dores, alegrias e amores nesse pedaço de chão.
Bizâncio, Constantinopla, Istambul são alguns de seus nomes, que ao longo do tempo foram sendo modificados tal qual o caráter e as feições dos povos que por aqui passaram.
Meus primeiros dias em Istambul foram tentativas desencontradas em buscar uma cidade imaginária e mágica, povoada por personagens fantásticos que habitavam desde sempre minha imaginação desde as aulas de história na época de adolescente. Onde encontrar algo que só existe dentro de si mesmo? Que permeia memórias longínquas de um tempo que pra mim nunca chegou a existir de fato? Afinal é composto do mesmo material dos sonhos...
Apenas vestígios e rastros, pegadas etéreas aqui e ali de um passado tão longe que chega mesmo a parecer ficção.
Na verdade, alguns dias depois encontro pistas que me levam ao encontro da minha Istambul, aquela que habitou por tanto tempo meus sonhos. São cheiros, cores, sabores e aromas. Movimentos, ritmos e sons. Coisas de quem tem a cabeça sempre a divagar. Mas assim aconteceu.
A música chorosa e melancólica é a coisa mais forte, tocante. Vem do alto dos minaretes, convocando os fiéis para as preces diárias nas mesquitas, quase um lamento ao Onipresente Allah. Sempre Allah. Tempo de Ramadam (Agosto) de jejum e orações cinco vezes ao dia. As vozes dos vendedores do Mercado de Especiarias anunciam aos berros seus produtos competindo entre si, uma quase briga bem humorada, cheia de vida e animação. O frenético vai e vem de gente se acotovelando pelas ruas estreitas ao lado do mercado. Cheiro de açafrão, curry e pimenta. Cheiro de kebab, milho verde e castanha assada vendidos nos carrinhos pelas ruas. O gosto doce e suave do lokum, típica iguaria turca. As cores berrantes dos montes de especiarias que grudam nos meus olhos: verdes, vermelhos, amarelos, laranjas. Legumes desidratados pendurados em cachos pendentes, mais parece obra de arte de tão lindos. Gosto delicioso de Símit coberto com gergelim. Cheiro de peixe misturado com maresia que vem do lendário Golden Horn logo ali caudaloso passando por debaixo da Ponte Gálata, em direção ao Mar de Marmara. Navegadores mercantes, exércitos triunfantes, comércio de especiarias, descobertas, o mar e amores. Cheiro de urina de gato - nunca vi tanto gato! Espalhados aos montes pela cidade afora. O ruflar das asas das pombas pelas praças sobrevoando a cabeça –alvo dos passantes. As mulheres islâmicas andando braços dados, com suas vestes jalabib, cabeças cobertas pelo hijab, muitas de preto. Cabeças curvadas e olhares baixos. Os homens quase sempre em pequenos grupos, quase, quase a conspirar olhando pela tangente para as ocidentais despudoradas em vestidinhos curtos. O colorido dos famosos tapetes turcos, suas tramas e tranças contando histórias e memórias. Os escritos em árabe, ainda remanescentes de um tempo distante, evocando o Corão e os tempos de Maomé (Muhammad). As orações-lamento dentro das mesquitas, belíssimas! Onde homens rezam separado das mulheres.
O céu azul brilhante e o sol quente guiam meus passos e iluminam meus pensamentos. Assim continuo a andar e investir na descoberta de suas riquezas e encantos. Cada passo conquistado arrisco a contemplar a idéia de uma Istambul idealizada. Cidade que não existe mais, perdida no tempo. Cidade que se transforma a cada minuto impregnada de tempo presente. Um lugar incomparável sim, único. Cheia de contradições, pessoas, cheiros, barulhos, buzinas, mesquitas e minaretes, trânsito caótico, tapetes mágicos e algumas boas surpresas.
*Os dervixes.
Istambul caleidoscópica, cheia de caminhos e descaminhos, subidas e descidas. A cidade das sete colinas e dos minaretes. Apenas impressões, muitas indeléveis...
Um close na cultura, atos e fatos...
*A escrita árabe está em todos os lugares – A Turquia é um país de maioria muçulmana. Maomé foi quem criou o Islã. Ele nasceu em Meca, cidade sagrada para os islâmicos, situada na Arábia Saudita. O Corão originalmente foi escrito em árabe. A Civilização Árabe se desenvolveu sob a proteção do Islã e foi uma civilização da escrita. A escrita especialmente árabe é considerada uma ligação especial com a palavra de Deus e fundamento de vida para os islâmicos.
*A escrita árabe está em todos os lugares – A Turquia é um país de maioria muçulmana. Maomé foi quem criou o Islã. Ele nasceu em Meca, cidade sagrada para os islâmicos, situada na Arábia Saudita. O Corão originalmente foi escrito em árabe. A Civilização Árabe se desenvolveu sob a proteção do Islã e foi uma civilização da escrita. A escrita especialmente árabe é considerada uma ligação especial com a palavra de Deus e fundamento de vida para os islâmicos.
*95% da população de Istambul se diz Islâmica, a maioria vive na porção asiática de Istambul e trabalha na europeia. Duas pontes unem ambas as porções da cidade.
* A Turquia é um país laico, secularizado a partir da Republica Da Turquia em 29 de Outubro de 1923 por Kemal Atatürk. Ou seja o Estado se posiciona neutro em relação á religião, doutrinas ou crenças.A religião não interfere diretamente na política.
*O véu e as roupas femininas - As mulheres islâmicas fazem uma escolha ao usar ou não a jalabib (espécie de túnica comprida e solta) e o hijab (véu que deve cobrir a cabeça e o colo), isso não é mandatório segundo o Islã. Seu uso se faz com vários intuitos: se despir da vaidade mundana e das aparências, se resguardar dos olhares de desejo dos outros homens (na comunidade islâmica tanto homens quanto mulheres devem se manter virgens até o casamento, portanto a roupa das mulheres funciona como facilitador da castidade). Também significa modéstia e fé em Deus. Atributos altamente valorizados pelos islâmicos.Mas acima de tudo é a representação íntima de uma jornada espiritual na qual a maioria das mulheres acredita.
*O véu e as roupas femininas - As mulheres islâmicas fazem uma escolha ao usar ou não a jalabib (espécie de túnica comprida e solta) e o hijab (véu que deve cobrir a cabeça e o colo), isso não é mandatório segundo o Islã. Seu uso se faz com vários intuitos: se despir da vaidade mundana e das aparências, se resguardar dos olhares de desejo dos outros homens (na comunidade islâmica tanto homens quanto mulheres devem se manter virgens até o casamento, portanto a roupa das mulheres funciona como facilitador da castidade). Também significa modéstia e fé em Deus. Atributos altamente valorizados pelos islâmicos.Mas acima de tudo é a representação íntima de uma jornada espiritual na qual a maioria das mulheres acredita.
*O Ramadam acontece uma vez por ano no nono mês do calendário Islâmico que é lunar e não solar.É o mês em que o Alcorão foi revelado a Maomé. Os islâmicos jejuam da aurora até o por do sol e devem abster-se de comida, bebida (inclusive água) e relações sexuais. È considerado um método de purificação espiritual e auto disciplina. Os fiéis também criam uma empatia com todos aqueles que passam fome, incentivando a caridade.
*Ablução- é um rito utilizado por diversas religiões. É o ato de lavar-se/purificar-se com água. O batismo é uma ablução. Os islâmicos antes de rezar devem lavar a cabeça, os olhos, as narinas, as mãos e os pés. È considerado uma higienização do corpo que para eles carrega muitas impurezas.
* Aesop ou Esopo famoso universalmente por suas fábulas era turco, nasceu na Anatólia (Anadolu em turco) a parte oriental da Turquia ou Ásia Menor.
*O Estreito de Bósforo separa a Europa da Ásia, divide Istambul ao meio sendo a parte ocidental fica a Europa e a parte oriental na Ásia;
*As tulipas são originárias da Turquia. Tulipa = turbante. Foram trazidas à Holanda pelo Embaixador Ogier Ghiselin de Busbecq, representante de Carlos V da Holanda na corte de Süleyman, o Magnífico.
* Fica em Istambul a histórica estação ferroviária de Sirkeci, última paragem do lendário Expresso Oriente-Simplon, um dos trens mais luxuosos do mundo. Fazia o trajeto entre Paris e Istambul (Constantinopla na época) desde 1883 a 1977.
* As sete igrejas do apocalipse são localizadas onde se encontra hoje a Anatólia (parte asiática): Éfeso, Izmirna, Pergamundo, Tiatira, Sardis, Filadélfia e Laodicea.
* Mustafa Kemal Atatürk (o pai dos turcos)- Herói nacional, é uma figura muito reverenciada no país todo. Suas fotos se espalham em todos os lugares. Foi um oficial do exército, revolucionário, estadista e o primeiro presidente da Turquia. Tem os méritos de ser o fundador da República da Turquia em 1923. Revolucionou o país implementando mudanças drásticas na política, economia, educação, cultura e sociedade, transformando a Turquia num Estado-Nação secular, moderna e ocidentalizada.
*Os Dervixes. em breve farei um post especial sobre eles.
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